quarta-feira, 30 de novembro de 2011

PARTE 3



Muitos episódios se passaram na época de criança e adolescência, que ainda estão latentes em minha memória. Hoje, escutando uma seleção de músicas de Fábio Junior me deparei com a música PAI, e comecei a questionar e lembrar o pouco ou o muito, que essa palavra representa pra mim.  
Fui criada sem a presença do meu pai adotivo, porque ele era caminhoneiro e as poucas vezes que ia a casa minha mãe adotiva discutia com ele, depois de crescida compreendi o porquê: ele tinha outra família ( outra mulher e duas filhas). Até meus 11 anos ninguém conversava comigo a respeito de muitos assuntos, inclusive o de adoção. Mas eu era esperta e curiosa e descobri quem era o meu pai genético, e desde aquele dia em que ele ficou frente a frente comigo, passei a gostar dele e nunca mais o esqueci.
Eu tinha meus 7 anos, e minha mãe precisava de alguém para carpir o mato do nosso quintal que estava volumoso, logo após o inverno. Meu pai fazia “bicos” pra se sustentar e minha mãe o chamava, sempre que precisava. MAS, naquele dia... exatamente naquele dia, que eu já tinha certeza de quem ele era... foi ... marcante:
Eu estava na cozinha fazendo meus deveres de casa, quando ele desceu as escadas e passou me olhando e disse pra minha mãe: “Dona Zezé, como sua filha é estudiosa!”. Eu olhei pra ele e vi o brilho em seus olhos e o orgulho de me ver ali, arrumadinha, limpa, bem vestida e estudando. Achei de uma humildade tamanha, aquele gesto. Depois passou cabisbaixo para o quintal e começou o seu serviço. E nunca mais esqueci!
O reencontro com ele se deu a dois anos atrás, depois de 30 anos.

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

PALEATIVOS

As feridas
que as mágoas causam
nem sempre saram
apenas são usados
paliativos que acalmam.
Paliativos representados
por palavras e diálogos
as vezes pouco análogos
que mesmo sem querer
como tentativa são usados.
Mesmo assim graças a eles
se pode continuar a viver
e com os bons paliativos
podemos sobreviver.
01/08/10

INFÂNCIA

Infância querida
como é bom lembrar
das brincadeiras na praça
dos cochichos inocentes
dos sorrisos perdidos
na mente da gente
as palmadas da mãe
os choros consequentes
lágrimas contidas na lembranças
e dos sonhos adolescentes.

LEMBRANÇAS

Seja manhã de chuva
seja manhã bela
um pássaro vem se postar
de fronte minha janela.
Cantar segredos de um amor
que longe está a viver
no infinito, na imensidão
talvez no entardecer.
Entardecer triste e sereno
que faz lembrar seus olhos
perdidos no infinito
infinito dos teus sonhos.
17.09.93

terça-feira, 22 de novembro de 2011

PARTE 2

PARTE 2

Exatos 15 dias, tempo permitido para que minha mãe ficasse comigo, após meu nascimento. Tempo mínimo e restrito, porém essencial para amamentar e tentar não se apegar.
Algumas pessoas da cidade queriam me adotar “gente de toda a qualidade”, mas o pouco de senso que ainda restava da pobre jovem Selma, não permitiu que eu fosse entregue de qualquer jeito a qualquer pessoa. Foi então, faltando poucos dias para o meu nascimento, promessas e pactos foram feitos entre minha mãe genética e minha mãe adotiva. A primeira prometeu fazer a entrega do “pacotinho”, logo ao sair da maternidade e jurou nunca interferir na vida e educação daquele pequeno ser. A outra com seu ar autoritário consentiu 15 dias para amamentar e por nobreza jurou cuidar e dar uma boa educação, enquanto pudesse viver, já que era na época uma senhora de mais de 50 anos e separada.
Dona Maria José, conhecida por Dona Zé, separada, com dois filhos um adolescente e outra entrando na maior idade e a lembrança de seu primogênito, que em pleno vigor da idade, aos 33, morreu afogado. Ela, tinha um certo prestígio na cidade, por isso foi um alvo certeiro para a minha adoção. Como toda criança, recém nascida, fui embalada e cuidada, com pouco ou muito amor “isso não vem ao caso”. Só sei que minha vida, minha educação e traumas, devo a minha mãe adotiva. Após sua morte (5 anos mais ou menos), quando estava com 21 anos tive a grande benção e alegria de conhecer minha mãe genética. 

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

EM TEU VENTRE

Em teu ventre senti frio 
Também ausencia de amor 
Já pressentia que o destino 
Rondava-me ameaçador. 

Em teu ventre senti medo 
Chorava sem apelo
A tua tristeza transmitia 
Angustia e desespero. 

Arrancaram-me do teu ventre 
Sem carinho e compaixão 
Naõ me afegaste, não me embalaste 
Nem se quer viste 
Minha face 
Angelical e inocente 
Um adeus foi naquele momento
Em que sai do teu ventre .

Fui crescendo 
E a pergunta me atormentando 
Sobre as diferenças percebidas 
Todos eram alguém. Eu, a cria. 
Sentia-me inferior 
Mas ninguém explicava 
O que estava acontecendo 
A dúvida me atormentava.

Cresci.
As dúvidas foram esclarecidas 
Hoje só me restou 
Perdoar o abandono e a dor 
Enfrentando o mundo sem rancor 
No entanto, sou grata pela pessoa 
Que apesar de tudo deu-me a vida 
O passado deixo de lado 
O presente é uma conquista.

Sei que o futuro terá 
Muito mais a explicar 
A importancia que minha vida tem 
No hoje, no ontem 
Aqui, ou em qualquer lugar 
Porque sou filha do mesmo Deus
Que está sempre a nos olhar. 

Eloisia Cristina Serafim 

PARTE 1

Santa Terezinha, cidade situada no agreste de Pernambuco. Entre Garanhuns, terra da garoa e Bonconselho, terra não-sem-de-quê. Foi lá que tudo começou... Lugar de gente simples e pacata, onde todos se conhecem e se cumprimentam. Isto é !!!! Se você andar na linha, com certeza é um homem honrado e uma mulher de bem, mas se vacilar... o cachimbo cai! Você vira docinho na boca de gente fofoqueira. Naquele tempo, então!!!
 Minha vô, mãe de minha mãe, pra se ver livre de mais uma filha, e de uma boca para alimentar, achou de ir até o cartório da cidade com uma invenção de que minha mãe tinha perdido a certidão de nascimento e aumentou mais três anos da idade, pois assim, ela ficaria com 18. E, ZÁS! Poderia se casar, com o namorado arranjado, chamado Anízio “meu pai genético”. Até o nome da minha mãe foi mudado de Quitéria, nome imposto não sei por quem, e trocado por Selma que era preferência da maioria da casa. Inclusive, a dona, “minha mãe genética”. Agente sabe que no Brasil se dá um jeitinho pra tudo, ou quase tudo, mas no interior, há tempos atrás... mas, deixemos isso de lado. O resultado pra tudo isso, foi o casamento de meus pais, Selma e Anísio, que durou até uns meses depois de minha concepção.
O casamento já começou torto, sem um gostar bem do outro, mas na hora do “rala e rola”, tudo está bem, tudo é gostosinho. Não durou muito para aparecer uma gravidez. Com mulher enjoada e entojada, meu pai passou a sair pra bebedeira e deixar minha mãe trancada (essa foi a versão de minha mãe, a do meu pai não sei). Ela, por sua vez, se sentia só e sem saber o que fazer, só sabia ficar chorando pelos cantos da casa. Até o dia em que ele, sob efeito da ignorância e estupidez, bateu e insultou minha mãe. Foi a última vez que ele levantou a mão pra ela e esta foi a primeira vez que fui desrespeitada, ainda no ventre de minha mãe. Com isso, ela tomou uma decisão, que mudaria a vida de todos nós, inclusive a minha. Uma decisão, que tantas mulheres hoje em dia precisam tomar e não conseguem, porque o medo é maior que todos os problemas juntos.
Sem opção, a princípio, foi pra casa da mãe “aquela que dá um jeitinho pra resolver as coisas”, cuja frase foi nua e crua: pode ficar aqui até essa criança nascer, trate de arrumar pra quem dar, porque aqui não cabe mais uma boca, não! Durante o restante da gestação, ao invés de alegria, cantarolar e sorrisos, ao esperar o nascimento, só se ouvia o pranto de alguém que espera a perda, a separação, o choro, a partida.
Foi então que chegou a hora esperada: eu nasci! Logo em seguida fomos separadas pelas mãos alheias, pelo destino, pela vida!

CONVITE

Desde que aprendi a ler e escrever, aos meus 6 anos...senti uma necessidade de compartilhar com o papel meus sentimentos e impressões do pequeno mundo, que me cercava. Hoje sinto essa mesma necessidade. Agora, com uma diferença: necessito compartilhar um pouco de minha vida com cada pessoa que tiver a curiosidade, paciência e cumplicidade de leitor. Contando a partir de hoje, postarei um capítulo a cada semana, de lembranças e episódios que aconteceram desde minha infância e alguns fatos anteriores que estão interligados a minha existência e breve vida terrena. Não pretendo com isso ganhar créditos, mas compartilhar meus escritos... Deixo em aberto a liberdade de críticas e comentários. SEJAM BEM VINDOS!

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

A AIA

“A Aia” – Eça de Queirós

Publicado por: Helena Costa em: 18 Março 2007
    Era uma vez um rei que partiu em direção a batalhas que se travariam em longínquas terras, deixando sozinha no reino a sua mulher, a rainha, com um filho nos braços.
Algum tempo depois um dos seus cavaleiros trouxe a trágica notícia da morte do rei deixando a rainha desolada, chorando pela criança ainda tão pequena e já com tantos inimigos por causa da sucessão ao trono.
Um dia o tio do menino, um desses terríveis inimigos, desceu do seu castelo com os seus guardas pronto para matar o pequeno príncipe. A aia do menino, que tinha um filhinho ainda bebé, amava tanto o pequeno príncipe que trocou os bebés pondo o seu filho no berço de marfim e o outro no berço de verga. Nesse mesmo instante entrou o maldoso tio que dirigindo-se ao berço real pegou no bebé e desapareceu. Quando a rainha entrou no quarto e viu o berço do seu filho vazio, começou a chorar. A aia, muito triste, destapou o outro berço e mostrou à rainha a criança que lá se encontrava. A rainha ficou muito agradecida e decidiu oferecer todas as riquezas do tesouro real que ela escolhesse. A escrava no meio de tanta riqueza e brilho mas tão desgostosa pela morte do seu bebé pegou numa adaga e matou-se dizendo :
- Salvei o meu príncipe. Agora vou dar de mamar ao meu filho.

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Busca inconcebida


Na tentativa de fugir
do meu eu-poético subjetivo
cai na rede da ilusão
de que, querer-te, eu queria.

Em armadilhas de sonhos
então, presa me vi.
Fatal foi minha batalha
de tanto mostrar-me, me despi.

Despi-me de alma,
de corpo e espírito.
com tal transparência
que nem mais fui percebida,
consequencia de uma busca
inconcebida.

Eloisia Serafim